conhecidos? desconhecidos!
Era velha, já tinha visto outras vezes ali, sempre acompanhada de sua filha. Tinha trazia a mim a lembrança do afoxé, não sei bem, só sei que lembrava, talvez fosse o sutaque, a fala alta, e os finais de frases que vinham sempre acompanhados de `tácerrto´ ou então agradecida Mô fio´, essa última demorei para entender, levei algumas semanas.
Esses estranhos que são conhecidos, pois de alguma maneira se conectam a gente pelas mesmas escolhas, no caso, a sala de espera do dentista.
Sempre olhei com curiosidade-de-dar-dô, mas nunca tive coragem para puxar papo. A roupa da filha, característica, talvez me afastasse, mas a curiosidade era sobre a velha.
Na semana passada a filha foi resolver algo.
- Espere minha mãe, um minutinho, volto em um cheiro.
Corredor a fora em passos largos se foi, ao longe se ouvia o som dos passos descendo a escada. Me enchi de coragem e o máximo que consegui fazer foi olhar a velha, suas mãos enrugadas, cheias de manchas e marcas que só o tempo pode trazer, repousavam-se uma sobre a outra, apoiadas na bengala.
De tanto olhar acho que chamei a atenção e quando meus olhos voltavam ao seu rosto, estava ela a sorrir.
- Hoje o dia está assim, meio a meio. Percebeu? – puxando papo a velha olhou bem nos meus olhos. Seus olhos eram azuis, lindos, expressivos como duas contas.
- Meio a meio?
- é minha filha meio frio, meio chuva... meio a meio.
- Ah! Sim, é são paulo. A senhora é daqui?
- Não. Sou de longe.
Sorri e fiquei na duvida se aquela conversa iria para algum lugar, resolvi perguntar o nome dela.
- Acelina, sabe o popô? Acelino? Sou Acelina.
- Acelina!
- Não, não minha filha me chame de “Bilu” Todos me conhecem assim.
Sorri. Ao fundo a voz do dentista que anunciava minha vez, restou apenas um aceno
- Dona Bilu!
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