quinta-feira, janeiro 26, 2012



Viajar tem um cheiro novo do orvalho da manhã, ou a cor da esmeralda diluída. O momento mais gostoso da viajem é voltar para casa. E foi assim depois de certo desencontro, nos vimos dentro de um ônibus voltando.

Naquele momento pensava nas coisas novas que o ano do dragão taria em minha vida, se conseguiria percorrer as ruas fluentes de São Gabriel, quando uma movimentação diferente para um domingo tranqüilo e ônibus completamente vazio começou a mudar. 

O silêncio deu lugar a  muitas vozes e por vezes choros de crianças, risadas, frases em alto tom, sem entender escutei de quem me acompanhava – “ é saída de alguma creche” – Como se estamos em férias letivas, se é domingo, fiquei me perguntando.
Meus olhos corriam pelas pessoas,  me chamava a atenção todas  mulheres, não passavam dos vinte anos.

Tentava pensar em outras coisas, mas meus olhos corriam de mim e convergiam sempre naquelas mulheres e seus filhos, de onde vinha essa gente toda, era essa a questão pulsava dentro.  Até que  em uma bolsa transparente mostrava sem censura uma pista para minha pergunta, as letras verdes manuscrita no papel , parecia ser uma carta, que entre batons e moedas eu tentava ler os fragmentos.
“ que o senhor jesus cristo me perdoe mãe por tantas besteiras que fiz, aqui dentro todos somos inocentes. Entendo a ( uma moeda e algumas canetas interromperam a leitura), mas eu erro e todos também. Saudade”

Ainda sem elementos para concluir de onde vinham,  me distrai para outro ponto do ônibus, mais pelo som do que pelo visual, o choro alto entre pausar de soluço me irritava ( não suporto criança chorando). O menino não tinha mais que quatro anos, os olhos vermelhos e a pele  marcada pelo esfregar de mãos para limpar as lágrimas. Entre soluços o pobre repetia “quero meu pai”. A voz do que posso pensar em ser sua mãe, falava em tom firme – “Tiago, para”.  O nome do apostolo  de jesus que deixou de ser pescador por acreditar na boa nova de vida, teimoso e determinado atravessou a península ibérica na região da Galícia, para pregar o cristianismo, efeito mesmo só teria talvez séculos depois de sua morte, onde essa região hoje abriga o caminho que fez. Penso neste menino que mesmo com confeitos dado pela mãe não cessava o choro e bradar do seu desejo de ficar junto ao pai.

Talvez essa gente tivesse saindo de uma  penitenciaria, poderia ser isso, a volta da visita a presos. Na verdade me perguntava o quanto era contrastante a minha situação perante a daquelas mulheres e senti dobrada diante daquelas pessoas, histórias, por estar feliz voltando para casa.

Nenhum comentário: