Viajar tem um cheiro novo do orvalho da manhã, ou a cor da
esmeralda diluída. O momento mais gostoso da viajem é voltar para casa. E foi
assim depois de certo desencontro, nos vimos dentro de um ônibus voltando.
Naquele momento pensava nas coisas novas que o ano do dragão
taria em minha vida, se conseguiria percorrer as ruas fluentes de São Gabriel,
quando uma movimentação diferente para um domingo tranqüilo e ônibus completamente
vazio começou a mudar.
O silêncio deu lugar a muitas vozes e por vezes choros de crianças,
risadas, frases em alto tom, sem entender escutei de quem me acompanhava – “ é
saída de alguma creche” – Como se estamos em férias letivas, se é domingo,
fiquei me perguntando.
Meus olhos corriam pelas pessoas, me chamava a atenção todas mulheres, não passavam dos vinte anos.
Tentava pensar em outras coisas, mas meus olhos corriam de
mim e convergiam sempre naquelas mulheres e seus filhos, de onde vinha essa
gente toda, era essa a questão pulsava dentro. Até que
em uma bolsa transparente mostrava sem censura uma pista para minha
pergunta, as letras verdes manuscrita no papel , parecia ser uma carta,
que entre batons e moedas eu tentava ler os fragmentos.
“ que o senhor jesus cristo me perdoe mãe por tantas
besteiras que fiz, aqui dentro todos somos inocentes. Entendo a ( uma moeda e
algumas canetas interromperam a leitura), mas eu erro e todos também. Saudade”
Ainda sem elementos para concluir de onde vinham, me distrai para outro ponto do ônibus, mais
pelo som do que pelo visual, o choro alto entre pausar de soluço me irritava (
não suporto criança chorando). O menino não tinha mais que quatro anos, os
olhos vermelhos e a pele marcada pelo
esfregar de mãos para limpar as lágrimas. Entre soluços o pobre repetia “quero
meu pai”. A voz do que posso pensar em ser sua mãe, falava em tom firme – “Tiago,
para”. O nome do apostolo de jesus que deixou de ser pescador por
acreditar na boa nova de vida, teimoso e determinado atravessou a península ibérica
na região da Galícia, para pregar o cristianismo, efeito mesmo só teria talvez
séculos depois de sua morte, onde essa região hoje abriga o caminho que fez. Penso
neste menino que mesmo com confeitos dado pela mãe não cessava o choro e bradar do seu desejo de ficar junto ao pai.
Talvez essa gente tivesse saindo de uma penitenciaria, poderia ser isso, a volta da
visita a presos. Na verdade me perguntava o quanto era contrastante a minha
situação perante a daquelas mulheres e senti dobrada diante daquelas pessoas,
histórias, por estar feliz voltando para casa.
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