Brisa do mar pairou no meu pequeno deserto por causa das ervilhas tortas...
Tudo começou quando meu deserto era ainda entre os livros, manchas margens e noções de espaço, refile, encadernação, senso motor e espacial e todas aquelas coisas que o curso de editoração passa para o aluno, de longe cobiçava a pequena entrada mas tão grandiosa.
Atrás daquela porta estava meu desejo mais secreto e escondido. Ai eram feitos todos os tipos de comida, uma cozinha experimental, novinha como um bebe, ali tão perto e ao mesmo tempo longe. Curiosa ficava no aquário olhando, tentando entender o que a leitura labial me trazia da aula.
Nunca vou esquecer aquele homem alto e ruivo, sua voz inaudível, era como estar surda, tentava assistir a aula do corredor, acompanhando tudo do globo de vidro a minha frente, sem som, restava espaço para outras sensações...
“O peru fica mais macio e úmido se for descongelado na geladeira, lentamente. O descongelamento rápido faz com que o peru perca muito do seu líquido, entenderam?”
Meus olhinhos brilhavam vendo tudo aquilo, mas a vida era outra e tinha que voltar para aula de encadernação manual e gráfica.
Dez anos se passaram e hoje, reencontro com aquele ambiente tão “desejado” e no dia-a-dia do restaurante moderninho, estou aprendendo e reinventando a minha própria rotina.
Pilhas de pratos intermináveis, todo o tipo de ajuda possível, decoração de pratos até passar pano de chão. Toda essa experiência não me causa um sentimento de inferioridade, pelo contrario me sinto satisfeita em estar ali...
A minha grande oportunidade de chegar mais próximo do fogão foi na quinta, - salve a quinta-feira! - A auxiliar havia faltado, estava ali fazendo de tudo um pouco. Todo o pré-preparo. Passava do meio dia quando o corre-corre da rotina que cerca a cozinha aumentou.
Estava executando uma das tarefas que a chefe havia me passado, dedicando-me a cada corte, a cada pedaço de cebola, cenoura com uma emoção inexplicável. Algo que até agora não sei direito como definir... tinha chegado o mais perto do que imaginaria um dia chegar!
É impressionante ver como tudo acontece tão rápido, para minha satisfação e surpresa o que parecia tão distante aconteceu...
“ - Prepare um recipiente com água e gelo! Ta vendo aquele caldeirão grande ali no fogão?
- Sim!
- É água fervendo. Pegue essas ervilhas tortas e deixe por uns momentos, depois escorra e coloque no recipiente que preparou. Agora! Agora! “
Meu coração estava aos pulos, não tive muito tempo para pensar ... tudo tão rápido...
Fui despejando a ervilha torta com movimentos lentos, cuidadosos e confesso, temerosos, um tarefa tão simples, que fez se abrir um buraco em mim e o que era deserto se transformou em uma tímida brisa de mar..
Não contive a emoção e chorei..
Uma sensação de alivio por ter tido a coragem, oportunidade de transgredir todas as minhas regras iniciais de formação. Renegar todos os livros e revistas que tinha na minha mesa um dia para estar ali no fogão.
4 comentários:
Será que um da vc vira livro? ai pronto une tudo e todos ficamos felizes... Quando vem prá cá?
Agora sim, posso e consigo dizer do meu orgulho mas somente porque o blogger deixou.
Você já sabe.
Beijos
Nada como comenzar a caminar... quer rico son las arvejas...
Felicitaciones de Bogotá..
Besos
Bira
Muito bem Chefe Taty! Ervilhas tortas com lágrimas de olhos bonitos e felizes devem ter ficado ótimas!
Um beijo
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