sexta-feira, abril 29, 2011

pelo menos uma vez por mês....

Tenho tentado tanto que nos últimos meses, após exatos dez convites consegui, ajeitar a agenda com o feriado da semana santa para cair de braços abertos no samba. A noitinha, o som inicialmente de passos na escada de madeira, pessoas chegando aos poucos se acomodando.

Cheguei cedinho, pois últimamente as 22:00 viro abóbora, ossos do oficio, da vida que me parece tão breve, dos sofrimentos que até aqui me trouxe em segredo, com mais força só agora, penso em te contar. Ser sincera, dizer que a doença insiste e eu luto como a corda que vibra do cavaquinho e chora linda, sonora.

Naquela roda de samba noturna que aos poucos chegava o som aos ouvidos, de afinos, de conversas, tão transparentes que pareciam vidros, que de tão finos podem se romper em clack! quebrar aos cacos, jorrando som a todos os cantos.

Sentada na mesa em frente da janela, noutro lado da rua outros ouvintes a sambarem o som que começava, brilhando em satisfação e alegria do samba que une pelo menos uma vez por mês.

O Bar, ponto de encontro, que também é uma associação, próximo a paróquia Nossa Senhora Achiropita.

Um espaço, único com característica própria, onde os amigos se reúnem com porções generosas regadas a pimentinha do MST. Vejam só vocês....


Lua nova, na placa de néon brilhava, coissas assim davam lugar a um encontro no coração do bexiga entre tantos desencontros que uma metrópole do tamanho da cidade da garoa nos proporciona, e agora com olhar estrangeiro me enche o peito de saudade.

Amara, essa Mara que abria a porta de sua casa, na minha lembrança vive ao som de Clara Nunes, “O mar serenou quando ela pisou na areia, quem samba na beira do mar é sereia” Amara essa Mara.

Daí penso que o convite era para o samba de bamba da amiga que eu só ouvi dizer que cantava. Nunca tive a oportunidade de vê-la, quando pintou a chance fiquei presa no hospital.

No meu imaginário ira morrer sem vê-la cantar, e fico agradecida de que isso não aconteceu.

Na janela encosto o corpo no beiral e ao som fico observando a rua, fotografando, tentando pelo menos, com a mão tremula que não me obedece mais. Me seguro na madeira antiga do batente, olho do alto, nessa posição ´so consigo ver a cabeça dos passantes pelas calçadas e busco nos pés daquelas e daqueles que poderiam ter o desenho mais lindo a se admirar, as cores....


A roda de samba, bambas se formou em cima do palco, antes disseram, se esparramava pela extensão do salão. A cada encontro mais camaradas, escutavam dizer que pelo menos uma vez por mês se cai no samba, parados por algumas horas boas e bobas a cantarolar.

Meu pensamento é frágil como a nossa relação se tornou, amara que tanto amo e admiro ao longe com orgulho antes de dobrar a esquina, fecho os olhos e guardo o som nos meu ouvidos.

Gostou? Em maio o Uma vez por Mês, fará um ano, quero ir comemorar, se não conseguir espero que vá no meu lugar.

Quando?

29/05/2011 20 horas

Onde?

RUA 13 DE MAIO,540 BIXIGA

3 comentários:

Cris Oliveira disse...

Ao ler seu texto, os sons do cavaquinho vadiavam pelo meu quarto, juro que ouvi o repique dos tambores...é fantástico como você consegue trazer essas sensações aos seus leitores...perfeito!

Anônimo disse...

É incrivel, parece q boa parte das pessoas tem q ter um tipo de dor.Vc relatou uma.Me pareceu ser a doença, talvez se relatasse outros tipos de dores ou algo mais abrangente, mas a metáfora está legal.Bjo.

Alcebiades Da Silva Neto 29 de abril às 16:58

Mara Rita Oriolo disse...

Querida!

Fiquei emocionada! Senti como uma homenagem ao nosso samba e agradeço! Samba esse que começou de uma brincadeira no aniversário de um amigo e no mês seguinte no meu e hoje, virou um evento! Um evento que dá trabalho...Essa brincadeira, em roda, vc sabe o significado do círculo para mim, foi a minha redescoberta! Me encontrei, encontrei minha alma, minha essência, há anos perdida, ou esquecida por mim! Samba é dor e lamento, mas também alegria e sustento, para os sonhos. Amara abrir minha casa ao som da Clara Nunes para seus quitutes e saladas, agora amo abrir o samba para vc, para nós; e não precisa pedir passagem! Uma vez lá: o samba também é seu, meu, nosso, para que no lamento, na dor, encontremos a alegria de viver!
Amo vc minha querida amiga e lhe espero no dia 29 de maio para comemorarmos! Se não se importar, gostaria de compartilhar este texto com alguns amigos...